A Anaí tem sua origem em 1979, criada por um grupo de ativistas indigenistas ligados, em sua maioria, a círculos universitários e a trabalhos anteriores, principalmente em pesquisa, com povos indígenas na Bahia.
Essa iniciativa se deu em um amplo contexto de mobilização da sociedade civil brasileira em defesa de direitos indígenas e em reação, à época, à proposição do governo ditatorial de promulgar uma lei de “emancipação indígena”, no qual diversas outras organizações indigenistas foram também criadas.
Inicialmente estabelecida como uma “seção Bahia” da Associação Nacional de Apoio ao Índio, já existente, essa condição nunca chegou a ser de fato formalizada cartorialmente e, em 1982, foi registrada como instituição autônoma, a Associação Nacional de Apoio ao Índio da Bahia, Anaí Bahia.
Já desde o seu início, a Anaí desenvolveu trabalhos nos planos político, cultural, social e humanitário, em apoio às comunidades indígenas. Inúmeras atividades voltadas para subsidiar avanços indispensáveis na Política Indigenista do Estado Brasileiro refletem as preocupações centrais da Anaí ao longo dos anos.
Em 1981, graças a uma parceria com o Centro de Trabalho Indigenista – CTI, que realizava um projeto de desenvolvimento sustentável entre os Kiriri, a Anaí realizou um trabalho de alfabetização de adultos junto a esse povo. Dentre outros elementos, o projeto abrangia atividades de preparação de material didático e capacitação de monitores indígenas em educação. Pioneira em toda a região, esta atividade parece ter deixado marcas significativas, posto que os monitores formados pela Anaí viriam a se tornar, no início da década seguinte, os primeiros professores indígenas não funcionários da Funai no estado e, mais que isto, a desencadear e liderar, na mesma época, um movimento por educação escolar indígena diferenciada.
Em 1983 a Anaí, que já desenvolvia o projeto de educação com os Kiriri, iniciou, com apoio de um programa da Fundação Pró Memória do Ministério da Cultura, um projeto de “educação alternativa” com os Pankararé, que eram, à época, um grupo apenas recém “reconhecido” pela Funai e sem nenhuma estrutura escolar.
Em 1983, a Anaí obteve um primeiro apoio institucional da Cese (Coordenadoria Ecumênica de Serviço) para montar uma estrutura mínima, basicamente uma secretaria.
Já em 1986, a Anaí conseguiu apoio, também junto à Cese, para o seu primeiro projeto de “desenvolvimento sustentável”, discutido com a comunidade do povo Pataxó da aldeia Boca da Mata (Terra Indígena Barra Velha), visando alternativas econômicas de renda e segurança alimentar e a redução da pressão sobre os recursos de flora e fauna da importante mancha de mata atlântica existente na área.
Em 1987, também por mediação da Cese, a Anaí iniciou parceria institucional com a Christian Aid, organização da cooperação internacional sediada no Reino Unido, para custeio da sua estrutura e atividades, que duraria por 26 anos, até 2013.
Entre 1987 e 1989, a Anaí participou ativamente da elaboração de propostas para reconhecimento e garantia de direitos indígenas junto às assembleias constituintes nacional e estadual, inclusive promovendo, junto com as organizações e lideranças indígenas, uma Ementa Popular que serviu de base para o texto do capítulo “Do Índio” da Constituição Estadual baiana.
Os anos que se seguiram à promulgação da Constituição Federal de 1988, no início da década de 1990, foram de intensificação de atividades indigenistas em parceria com políticas públicas governamentais, destacadamente nas áreas de regularização fundiária, educação e saúde. Esse novo contexto veio a exigir um esforço de profissionalização das organizações indigenistas da sociedade civil no qual nem todas as então existentes se engajaram.
Em 1996, num quadro em que poucas ONG indigenistas permaneciam em atividade, a Anaí reformulou seus estatutos, adotando a designação atual de Associação Nacional de Ação Indigenista, ampliando o seu escopo de interesse para os dez estados da região Nordeste-Leste, e, principalmente, qualificando-se para atuar em parceria com o movimento indígena regional, que no mesmo ano criou a Apoinme – Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo.
A Anaí tem estado ao lado das comunidades indígenas do Nordeste nas lutas pela demarcação de suas terras, pela remoção de intrusos dessas terras e pelo resgate da dignidade indígena e de melhores condições de vida.
Uma dedicação especial com educação e saúde nas comunidades indígenas regionais tem sido marcante na atuação da Anaí, seja pela firme crítica às omissões e precariedades das políticas públicas governamentais, seja pela mobilização de meios alternativos, complementares ou mesmo oficiais.
Em 1995 e 1996 a Anaí promoveu os dois primeiros grandes encontros de professores indígenas na Bahia. Após esses encontros, a Anaí resolveu organizar, diretamente, o curso de formação de professores indígenas. Para tanto, contou com o apoio da Ufba para o planejamento do curso, da Funai para alimentação e transporte dos cursistas, e do MEC para deslocamento e remuneração dos formadores.
Vale ressaltar que a Anaí assumiu praticamente sozinha toda a organização e logística dos dois primeiros módulos do curso, realizados em 1997 e 1998 em comunidades indígenas, além de participar do seu planejamento pedagógico.
Em 1998, a Anaí e o PINEB/Ufba realizaram o “Diagnóstico de Educação Escolar Indígena” no extremo-sul da Bahia, sob encomenda do MEC.
No campo da saúde, a Anaí colaborou, ativamente, como membro do Conselho Distrital de Saúde Indígena e em atuações diretas nas aldeias, a exemplo do projeto de prevenção de DST-AIDS, desenvolvido nas aldeias Pataxó entre 1999 e 2000, e nas demais aldeias do estado em 2001 e 2002.
Por outro lado, o Diagnóstico e o Plano de Gestão Socioambientais, realizados na Terra Indígena Kiriri, com recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente, serviram de base para um estudo da situação nutricional das crianças Kiriri e levantamento de outras questões ligadas à gestão socioambiental do território.
A partir de 2001, com apoio do MEC, a Anaí realizou oficinas de produção de material didático com professores indígenas das etnias Pataxó, Pataxó Hãhãhãi e Tupinambá de Olivença, por iniciativa e sob coordenação de associados e diretores.
A instituição participou, também, de programas de formação de professores indígenas em outros estados: em Minas Gerais, de 1995 a 2002, em consultoria para acompanhamento das etnias Pataxó e Xacriabá e também em atividades de formação; no Ceará, na formulação do programa de magistérios indígenas em suas duas vertentes finais, a da SEE e a da Funai, UFC e ONGs, e como formador na segunda; e em Pernambuco, em consultoria ao projeto “Escola de Índio”, do Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), para acompanhamento da etnia Kapinawá.
Já em 2003 e 2004, a Associação realizou o PIC-PI, Programa de Educação Continuada, do Ministério da Educação, voltado para os professores indígenas do estado da Bahia.
Em 2007, a Anaí publicou três livros didáticos, elaborados por professores indígenas Tupinambá e Pataxó, distribuídos nas escolas indígenas da Bahia. Essas ações atingiram diretamente cerca de 250 professores indígenas na Bahia e 300 professores indígenas em Minas Gerais; e, indiretamente, cerca de 5000 estudantes indígenas nos dois estados.
Entre 2008 e 2010 a Anaí elaborou, em cumprimento a Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Procuradoria da República no Espírito Santo e em parceria com a Funai, o Estudo Etnoambiental das Terras Indígenas Tupiniquim e Comboios, das etnias Tupiniquim e Guarani.
Em 2008, continuou desenvolvendo atividades vinculadas à educação, principalmente mediante seu Ponto de Cultura – “Pinaíndios – Culturas em Rede” – com apoio da Secretaria de Cultura da Bahia, o que dinamizou e potencializou as ações da instituição nas áreas de divulgação, educação, publicação, documentação e manutenção de acervos, sempre em parceria com os povos indígenas na Bahia. O objetivo principal era a promoção de iniciativas que propiciassem o diálogo intercultural entre os povos indígenas na Bahia e a sociedade nacional, no intuito de diminuir o preconceito e o abismo sócio-cultural que separam os povos indígenas dos demais segmentos sociais.
De 2012 a 2015 a Anaí executou, em parceria com a Uefs (Universidade Estadual de Feira de Santana), outras universidades latino-americanas e europeias, organizações indígenas da Bolívia e do México e o povo Pataxó, o projeto Combioserve, com apoio da União Europeia, para estudo e potencialização de iniciativas bem sucedidas de gestão de recursos ambientais e conservação de territórios indígenas, atuando, mais especificamente, nas unidades pataxós da Reserva da Jaqueira e do Monte Pascoal, em Porto Seguro. Ver: www.combioserve.animalared.org
Em 2014 e 2015, em parceria com Funai e Pnud e recursos deste último, a Anaí elaborou, com os povos indígenas Pankararu e Xokó, os Planos de Gestão Territorial e Ambiental de suas Terras Indígenas Entre Serras (Pankararu, Pernambuco) e Caiçara-Ilha de São Pedro (Xokó, Sergipe). E em 18 de agosto de 2016 a Anaí lançou, em parceria com o Pnud , os livros, ” Etnomapeamento da Terra Indígena Pankararu Entre Serras” e “Etnomapeamento da Terra Indígena Xokó Caiçara/ Ilha de São Pedro”, frutos desse projeto.
De 2015 a 2016, a Anaí elaborou, através de edital do Fundo Clima do Ministério do Meio Ambiente, Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) das Terras Indígenas Xacriabá e Xacriabá Rancharia (Minas Gerais), E, em parceria com o CCLF (Centro de Cultura Luiz Freire), elaborou o PGTA da Terra Indígena Kapinawá (Pernambuco).
Em 2014 a Anaí foi contemplada em edital do Fundo Memorial do Ministério da Cultura e recebeu, em comodato até 2016 e em doação definitiva a partir desse ano, equipamento completo para digitalização de acervos documentais, incluindo computadores, scanners, câmera fotográfica, mesa estativa e HD’s externos, além de treinamento especializado para digitalização de acervos documentais diversos.
Desde abril de 2016 e por mandato de dois anos, a Anaí foi, como representante da sociedade civil, membro titular do CNPI (Conselho Nacional de Política Indigenista), órgão consultivo e deliberativo, vinculado ao Ministério da Justiça encarregado da formulação e supervisão da política indigenista do Governo Federal.
De 2018 a 2022 o projeto Cunhataí Ikhã foi uma iniciativa da Anaí com apoio do Malala Fund (Fundação Malala), entidade internacional criada pela paquistanesa Malala Yousafzai, que se tornou, em 2013, a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz. A parceria foi firmada durante visita de Malala a Salvador, a 10 de julho de 2018, e, como todas as iniciativas da Fundação, teve o objetivo de promover a educação secundária de meninas adolescentes. O projeto Anaí foi concebido pela direção da Anaí e por jovens estudantes indígenas da Ufba com o objetivo de, em ações que se desdobraram ao longo de quatro anos, promover o acesso e a qualidade do ensino secundário para meninas indígenas no Estado da Bahia.
Em 2021, a Anaí inicia o Curso Pré Universitário Jenipapo Urucum para mulheres indígenas de todo Brasil. Com uma proposta inovadora, para além de aumentar a participação de mulheres indígenas nas universidades brasileiras, o projeto veio com o objetivo de trabalhar o empoderamento feminino, o fortalecimento cultural, a equidade de gênero dentro dos espaços de conhecimento, encorajar o lugar de fala dessas mulheres dentro e fora de suas comunidades bem como combater o racismo e o preconceito. O curso, totalmente online, tem uma duração de nove (09) meses, de março a novembro, com aulas on-line. O material didático foi elaborado e pensado especificamente para as meninas e mulheres indígenas. Além das aulas e monitorias, planos de estudo individuais são organizados para cada menina e mulher do projeto a partir dos seus projetos pessoais.
A Anaí tem estado ao lado das comunidades indígenas do Nordeste e Leste nas lutas pela demarcação de suas terras, pela remoção de intrusos dessas terras e pela valorização da dignidade indígena e de melhores condições de vida.